terça-feira, 14 de abril de 2015

"Mistérios da Mãe Lua" - terceira parte



O calor do sol naquela pequena cidade do interior de minas gerais era quase insuportável. Sutura era na verdade um vilarejo tão pequeno, que mais parecia uma pequena fazenda ,  a cidade toda.
Ana, a sobrinha do padre Benedito Cecílio, freirinha que tinha chegado a pouco tempo, logo achou o riacho do trevo. Moça tímida, uma alma realmente atormentada, parecia estar sempre com o coração na mão. Sua mãe, a prometeu a virgem santíssima, quando ainda era um bebê, pois sofria de algum mal, segundo ela, era coisa do demo.....Foi assim, que desde muito cedo, se tornou freira, mesmo não sabendo o que realmente queria para si.Mas as coisas iam mudar.....
Era tarde de sexta feira, e o riacho estava convidativo, suas águas eram tão claras que mais pareciam um espelho.  Ana estava com os pés mergulhados quando ouviu uma voz tão aveludada e firme ao seu lado que quase morreu ali mesmo, de susto.
_ Posso me apresentar, senhorita?
O único desejo da moça naquele momento era que fosse levada aos céus, para que não tivesse que lidar com aquela situação. Mas Euvídio, completou.
_ Não tenha medo, sou Euvídio, o dono dessa fazenda.
Ela corou e baixou a cabeça dizendo.
_Me desculpe senhor, não queria invadir sua propriedade, mas.....
Quando ele a interrompeu.
_Não se preocupe, todos da cidade fazem isso, não vejo problema algum. Eu que peço desculpas por chegar dessa forma.
Nesse instante, cruzou o olhar de Ana, e sentiu que sua alma também o reconheceu, como ele, quando a viu descer do ônibus na praça da cidade, dias antes.
Ela sentiu sua garganta queimar.....seria sua garganta ou seu peito?....a terra girar, e o céu se abrir, tudo ao mesmo tempo. Não sabia o porque de tantas emoções, por causa de um homem, dezesseis anos mais velho, já que era freira.
Levantou-se meio desengonçada, era pequenina, tinha cabelos negros lisos presos em coque, olhos amendoados aflitos, e ossos frágeis, aparentava bem menos idade do que  seus vinte e um anos. Saiu correndo, deixando Euvídio surpreso com tanta rapidez.
Perdido em seus pensamentos, ele sentiu o cheiro da noite chegando....
“ Anahí, Anahí, tinha que retornar a mim como freira, e tão nova?!?!? Como me reconhecerá, minha vida??? Como acabaremos com essa maldição !?!?!?Como chegarei  a sua alma, a vi em seus olhos. Quantas vezes mais rasgarei minha pele, me transformando em besta fera preso naquele calabouço?!?!!?
Naquela noite, Ana teve um sonho, no qual, era uma índia tentando fugir de sua aldeia em chamas. Acordou assustada, seus olhos haviam se modificado, sua alma acordado......
Ao longe, o desgraçado mais uma vez urrando para a lua, linda e cheia no céu....em um urro sofrido e voraz.



(Andréa C. Narita )




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