Tão forte o aperto no
peito, sinto como se estivesse sendo presa a uma pressão de ar que
de todas as formas me quer no vácuo. É um misto de desespero e
ansiedade que mescla um terror que me espreita bem de perto, quase
sinto seu hálito e seu abraço sombrio.
Logo começo a recordar
as cores, o cheiro e o sabor de coisas que até o exato momento nada
tinham de especial. O toque das pessoas, a energia perdida em
encontros casuais, pessoas que passaram pela minha vida e que se
perderam como tantas coisas.
Penso em como teria
sido se tivesse respondido ao recado no guardanapo que ganhei do
garçon certa vez naquele Café. Talvez tivesse sido mais feliz se
tivesse dado o devido valor as pequenas coisas cotidianas, que passam
despercebidas por entre nossos dedos ávidos por um algo que nunca
sabemos o que realmente é.
As lágrimas rolam em
minha face sem que eu as perceba, são como rios que saem da nascente
direto para o nada. Minhas mãos soam frio, e minhas pernas tremem.
É engraçado como em
poucos minutos a minha vida se tornou nada e o medo tomou conta de
mim. Talvez eu saia dessa sala em que me encontro de braços dados
com senhora dos tempos, quando tudo e todos são iguais.
Algo começa a brotar
em minha alma, e uma luz começa a surgir em minha mente. A luta só
acaba para quem não sabe enxergar que nela pode existir a vitória.
Levanto-me devagar,
enxugo as marcas da minha tormenta. Afinal de contas, um terceiro
diagnóstico é sempre um feroz juiz. E o que seria o medo se não
fosse esse senhor austero, forte e insensível?
Abro a porta, o
corredor parece interminável até o elevador. Vou tomar um pouco de
ar, esse mesmo que sempre esteve lá, mas que só o senti nesses
últimos dias. Olha as pessoas na rua em suas passadas rápidas, o
artista de rua em sua performance, a criança que corre e sorri para
sua mãe. Como não havia prestado atenção antes? Sempre
esteve lá, mas só percebi agora. A vida é mágica, e uma
professora perfeita, daquelas que quando o aluno não aprende, ela o
ensina mesmo assim. Sempre ouvi que temos duas opções de
aprendizado , uma é pelo amor e a outra pela dor. Mas como todos
os mortais, nunca pensei ter que descobrir a dor, que é amiga
inseparável do medo. Medo de ter fracassado, de não ter tempo de
realmente viver. Tanto tempo perdi com pequenos sentimentos, só
agora vejo que nada importa realmente, somente o sentimento
enriquecido e as experiências vividas aqui neste plano.
Olho mais uma vez o
céu, é uma linda tarde de outono, com sol e friozinho latente. Olho
o relógio e volto ao local onde saberei o resultado dos exames. É
tudo ou nada, agora sinto como se eu fosse uma centelha do universo
prestes a ser engolida. O que não deixa de ser uma verdade.
O elevador parece subir
mais de mil andares, finalmente chego, a recepcionista me olha, e me
encaminha para a sala do médico. Não quis que ninguém viesse
comigo, pois não queria piedade de ninguém, mas que engano o meu.
Eu mesma fui minha pior carrasca. Que orgulho seria esse , que me
movia ainda? Apreensiva me sento a sua frente e o veredito: NEGATIVO.
Neste momento sinto
meus pés se fortificarem e uma nova luz me invadir. Depois de dois
diagnósticos um POSITIVO e um NEGATIVO, ter a confirmação de que
ainda estaria aqui por mais tempo, me transformou.
Saí daquela sala, uma
nova mulher, um novo ser, cheio de desejo pela vida e por tudo que
possa reverter o fim em início. O medo que me tomou, quase que de
imediato deu lugar ao entusiasmo e alívio que só quem já se sentiu
na encruzilhada sabe.
Todos estão por aí,
indo e vindo, mas quantos realmente sabem o quão importante é cada
dia, cada experiência?
Um novo mundo surgiu em
meu interior e a pequena centelha que sou se transformou em uma
explosão cósmica jamais vista.
E foi assim que o medo deu à luz a vida em mim.
*personagem fictícia
(Andréa C Narita)
Nenhum comentário:
Postar um comentário