terça-feira, 7 de abril de 2015

Mistérios da Mãe Lua (última parte)




                            Ana não sabia direito o que estava acontecendo, era uma tempestade de sentimentos e vozes que se misturavam em seu interior. Sempre teve dúvidas sobre sua real vocação, mas seguia o que sua mãe havia lhe reservado. Seguiu o sacerdócio com obediência, mas sempre sonhava com a mesma moça de pele canela, longos cabelos lisos e olhos amendoados como os seus. A imagem que queimava em uma fogueira sempre lhe estendia a mão e pedia ajuda. Anos achando que sofria das investidas do demônio. E aquele homem estranho, o dono das terras do riacho..... não conseguia entender o motivo de sentir-se extremamente atraída, era uma freira e deveria se manter casta. Desejos do demo!!!! agarrou o terço e colocou-se a rezar.

Sentiu um calor em seus ombros, quando virou-se viu Euvídio. Antes que pudesse gritar ou correr, foi calada com um beijo desejoso e atrasado décadas. Lutou sem querer, até que se rendeu. Uma luz brilhou em sua mente e finalmente, como em um filme, viu tudo o que deveria lembrar, como uma projeção cinematográfica. Anahí estava ali, presa dentro dela, como se fosse um espelho da alma, gritando para ser libertada. A egrégora que se formou entre os dois era quase um campo de força extremamente denso, onde duas almas se reencontram após o martírio. Os olhos se comunicam melhor que as bocas, um misto de alegria e desespero, desejo e dor.

Longe dali, na fazenda, Fábio começa a sentir-se mal. Nos últimos dias, vinha acontecendo muito isso, principalmente perto da temida lua cheia. Com isso, na última ele quase não conseguiu chegar a tempo de trancar o patrão no calabouço, ia ser uma carnificina danada. Havia tido sonhos horríveis com fogo, e um índio jovem e musculoso. Saiu atrás de Euvídio, sabia bem onde encontrá-lo.
Ao chegar a cidade, logo viu o carro parado próximo a igreja, correu para dentro. Logo, sentiu-se queimar, caiu ao chão, e teve consciência de quem era e o motivo pelo qual estava ali. Agarrou a arma que levava, carregada com balas de prata, sabia agora o que tinha que fazer. Tomava consciência de que Antã, era o dono de sua alma.
Infelizmente quando se lança o mal, você também sai amaldiçoado. Sua mente voltou naquela fatídica noite, muito tempo atrás, onde lançou toda a tribo contra Anahí, quando a queimaram viva e colocaram uma maldição no filho do dono da propriedade, tudo porque não soube perder. Teria que acabar com tudo, só ele podia.

A dama cheia, graciosa começa a subir ao céu em meio a nuvens carregadas.....

Euvídio, a besta fera, começa a dar forma ao que se tornou no passado. Sua pele começa a rasgar, assustada Ana (Anahí) fica horrorizada com a transformação. Ele a empurra, pede que corra. Ela não ouve.

A chuva começa a cair, trazida pelos relâmpagos e trovões.....

O cheiro da maldição percorre o ambiente, quase transformado, desesperado pela presença de sua amada. Quase sem sentido humano. Ana (Anahí) assiste ao show de horror e petrifica. A criatura corre, destrói tudo que existe ao seu redor. Está feita, já não é mais o homem, mas um demônio que anda sobre patas. Sente o cheiro do medo dela, e no momento em que se lança sobre a pequena freira, várias balas prateadas percorrem o lugar, saídas de um canto escuro. O odor do sangue enche o espaço, ao olhar Fábio (Antã) vê sua obra. Dois corpos ensanguentados, um animal descomunal em cima de um pequeno corpo, mortos. As balas atingiram os dois.

Neste mesmo instante, uma luz brilhante surge saída dos corpos já sem vida ao chão. Mas o que seria vida, para as almas.....elas não morrem, apenas ressurgem, renascem.

A chuva para lá fora, e a Lua Cheia se faz majestosa no céu.

Os espíritos de Anahí e Euvídio, finalmente se encontram e partem juntos. Eis o fim da maldição. Foi preciso o fim do ciclo, a morte, que nada mais é que um retorno a um novo início.
Mas como a sábia vida mostra, colhe-se o que se planta. Fábio (Antã), foi encontrado na manhã seguinte, na igreja desacordado. Os corpos não estavam mais lá, mas ele sim, não se lembrava de mais nada e foi levado ao hospital da cidade vizinha, terminou louco, com distúrbios mentais em um sanatório.
Naquela cidade ninguém mais soube da freirinha e do dono da fazenda. A lenda de que fugiram juntos ficou, ou a de que ele virou lobisomem e a matou e a carregou para o inferno. Mas o que realmente ficou, foi a paz de espírito das almas amantes.



(Andréa Costa Narita)


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