domingo, 19 de abril de 2015

Lembranças de Alexandra III





O tempo, é magia pura ou um simples um passar de horas. Por décadas, centenários vi o cenário mudar. Agora aqui, sentada no alto deste terraço, vejo luzes que parecem corrente sanguínea em um grande corpo que renasce e morre. Tudo passou muito rápido,  hoje me lembrei do início em sociedade, só enxergavam minha descendência tupiniquim. Em quantos prostíbulos passei, rs.... houve um jogador muito interessante, este não matei pois me ensinou muito a arte do comportamento e da fala. Não tinha família,  vivia de pequenos golpes.
 Foi o ano mais interessante do início de meu renascimento, mas o dia em que ele viu a chama infernal em meus olhos e as presas pontiagudas em meu sorriso sedutor nunca mais o vi, o deixei ir....aprendi a jogar. 
A cada dia, ou melhor, a cada noite a índia sumia e dava espaço para a figura misteriosa, exótica e encantadora. Comecei a usar isso a meu favor, e deu certo, os homens são joguetes nas mãos de quem sabe usar as ancas. Mas não foram só luxúrias, houve uma senhora, que me ensinou a ser a grande dama que me tornei. Ela perdeu o marido , não tinha filhos e não tinha como se manter, nessa época comecei a juntar dinheiro e precisava de alguém para me ajudar. Odete sempre soube o que eu era, e para surpresa minha, queria morrer, se jogou em meu caminho. O que me fez perder a fome de imediato, sempre gostei do desespero da presa, é o que deixa o gosto mais apurado. Vi ali, uma aliada. Na  noite seguinte, ela acordou em minha sala, assustou-se porém, acalmou-se quando comecei a conversar. Sempre fui mestre na arte de falar, aprendi rápido....coisa que nos dias de hoje não encontro entre as criaturas, em especial desse país em que um dia achei que era meu.
Sim, o meu egoísmo foi maior e a transformei, até hoje é minha fiel escudeira. Não sinto remorso, pois ela também concordou.  A bondade humana, essa que se encontram nas escrituras, e nas bocas não é muito meu forte, mas tenho convicção que a maldade humana, muitas vezes é maior que a minha. 



(Andréa C Narita)

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